terça-feira, 13 de setembro de 2011

Mudancas Climáticas

                                      

Fonte: Wilson S. Andrade - Assessoria Técnica - Comissao Mista de Mudancas Climáticas
Senado Federal.
                          Clipping CMMC – 12.09.2011


  • Taxa para navegação pode combater emissões de CO2 – Instituto Carbono Brasil

    Após a indústria aérea receber limites para a emissão de CO2, agora é a vez do setor da navegação ser alvo do mercado de carbono. Nesta semana, o WWF e a Oxfam lançaram um relatório que sugere a adoção de uma taxa para embarcações a fim de reduzir a liberação de CO2. Com esse imposto, além dos céus, os mares também poderiam ficar menos asfixiados com as emissões.

    O documento, intitulado Out of the bunker (Fora do silo em inglês), propõe a adoção de um imposto para o combustível utilizado pelas embarcações para diminuir a liberação de gases do efeito estufa (GEEs) e arrecadar dinheiro para o Fundo Climático Verde (GCF em inglês), reserva financeira criada na COP16 para ajudar os países emergentes a lidarem com as mudanças climáticas.

    Segundo a pesquisa, o imposto deve ser de US$ 25 por tonelada de combustível usado, o que levantaria cerca de US$ 25 bilhões por ano, dos quais pelo menos US$ 10 bilhões iriam para o GCF, que deve arrecadar US$ 30 bilhões por ano até 2012 e US$ 100 bilhões anuais até 2020. O documento diz que essa taxa aumentaria em apenas 0,2% os custos da navegação, ou US$ 2 a cada US$ 1000. “É muito menos do que a variação do preço do combustível na última década”.

    “Um acordo para a navegação que tenha chance de levar as negociações em frente precisa de três critérios: ser global, aplicando-se a todas as embarcações para evitar evasão; incluir uma compensação para países em desenvolvimento para os custos de importação um pouco mais elevados que podem ocorrer; e direcionar os lucros restantes – pelo menos US$ 10 bilhões por ano – para o Fundo Climático Verde (GCF) -  explicou Tim Gore, coautor do relatório.

    De acordo com o estudo, atualmente a navegação contribui com cerca de 3,3% das emissões de GEEs globais, e o índice dessas liberações pode aumentar entre 150% e 250% se nenhuma medida for tomada para reduzi-las. Em julho, a Organização Marítima Internacional (OMI) já havia concordado em estabelecer padrões de eficiência para o setor da navegação.

    - As emissões da navegação [...] são enormes e estão crescendo rapidamente. Temos que fazer algo e podemos enfrentar isso de uma forma que também aumente as finanças. O desafio é fazer isso sem desfavorecer os países em desenvolvimento -  declarou Gore.

    Mas Gore afirmou que o próprio relatório oferece uma alternativa a esse desafio. “Nossa pesquisa mostra que é possível cortar boa parte das emissões de gases do efeito estufa da navegação sem atingir injustamente os países em desenvolvimento, e gerar bilhões de dólares em dinheiro para as ações climáticas em países pobres nesse processo”.

    Jason Anderson, diretor de políticas climáticas e energéticas do escritório de políticas do WWF europeu, acredita que a COP 17, em Durban, na África do Sul, é o momento ideal para que se estabeleça essa cobrança. “A conferência climática em Durban nesse ano oferece a oportunidade ideal para um acordo global para a navegação”, indicou ele.

    - Um mecanismo para lidar com as emissões da navegação e ao mesmo tempo fornecer financiamento para países em desenvolvimento deveria ser um dos pilares de um pacote de resultados forte em Durban que podem colocar o mundo no caminho para evitar as mudanças climáticas - acrescentou Anderson.

    Mas alguns representantes da indústria da navegação, como David Balston, diretor de segurança e meio ambiente da Câmara de Navegação do Reino Unido, creem que tal imposto, juntamente com a possível inclusão do setor no esquema de comércio de carbono da União Europeia (EU ETS) em 2013, pode sobrecarregar e prejudicar a navegação.

    - Acreditamos que a navegação deveria pagar de acordo com seu nível de emissões de carbono [e] 3,3% de £100 bilhões é £3,3 bilhões, não £10 bilhões, então aquele nível parece desproporcional. E se alguém levar em conta a inclusão potencial no EU ETS e em outras medidas baseadas no mercado [sob a OMI], isso pode chegar a ser uma tarifa tripla -  esclareceu Balston.

    A imposição de taxas para o combustível também já foi proposta ao setor aéreo, cuja oposição à cobrança pela emissão de GEEs fez com que países como a China e os EUA se pronunciarem contra o imposto, e levou as empresas aéreas norte-americanas a moverem um processo contra o ETS europeu e os EUA a criarem o projeto de lei para impedir a participação das linhas americanas no esquema.

    - A princípio [uma taxa] poderia ser aplicada à aviação, [...] embora haja mais conscientização do potencial para que isso seja um ganho duplo nas negociações da OMI do que no setor da aviação. É tão relevante [para a aviação] quanto para a navegação, e de certa forma os efeitos da distribuição são menores já que tendem a ser as classes ricas ou de classe média as que voam -  alegou Keith Allott, diretor de mudanças climáticas do WWF-Reino Unido.

    De qualquer forma, Gore acha que não há uma maneira fácil de se ganhar com a redução das emissões. “Não acho que reste qualquer jeito fácil de ganhar. [A negociação de mudanças climáticas em] Cancún pôs de lado todas as formas mais fáceis. Tudo o que restou é mais difícil. Ainda há pessoas a conquistar, países a integrar”, justificou Gore.

    Apesar da crítica, a taxa para o combustível da navegação parece receber mais aceitação do que o imposto que a UE pretende impor ao setor aéreo. “Essa é uma das razões pelas quais pensamos que podemos fazer algum progresso”, concluiu Gore. ***

    Brasil é o maior 'exportador' de água do mundo – G1 - Ecoverde

    Ainda não existe um comércio formal ou uma bolsa de mercadorias. Também não dá para imaginar navios deixando o porto de Santos ou de Manaus lotados do produto. Mas para o pesquisador inglês Tony Allan e para o brasileiro Samuel Barreto, coordenador do programa de água do WWF Brasil, o país lidera o mercado mundial de água. Estamos falando de água virtual ou pegada hídrica, um conceito que já está saindo das universidades e entrando no planejamento estratégico das empresas.
    A expressão define o uso, direto ou indireto, de água ao longo de todo o processo produtivo. De acordo com a metodologia, são necessários 15,5 mil litros de água para produzir um quilo de carne. Ou três mil litros para conseguir um quilo de arroz. Uma simples xícara de café precisaria de 140 litros de água para ser produzida. O Brasil é um grande exportador de couro, café, carne, soja e algodão, produtos intensivos no uso deste recurso. Daí a colocação do país nesse ranking hipotético.

    Empresas como AmBev, Natura, Coca-Cola e Unilever, já estão usando o conceito de pegada hídrica nos seus cálculos de produtividade. No entanto, à medida que ganha adeptos, surgem também os críticos do método, criado pelo holandês Arjen Hoekstra, da Water Footprint Network. Samuel Barreto admite que os números ainda não são precisos, pois consideram médias globais e ignoram realidades locais. Mas diz que o grande mérito está em medir algo que sempre foi considerado gratuito e infinito.

    Das mais de 200 economias existentes no mundo, pelo menos 160 podem ser classificadas como importadoras de água virtual. Poucas têm um excedente significativo para estar na ponta exportadora. Entre elas estão os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, a França e o Brasil, que tem pouco mais de 13% de toda a água doce do planeta. Os desafios são: reduzir o enorme desperdício domiciliar, industrial e agrícola; acabar com a contaminação dos rios e lagos e, quem sabe um dia, conseguir cobrar alguma coisa pelo item mais nobre da nossa balança comercial.***

    Fome na África é vergonha para o mundo – O Globo

    Há situações em que o mundo parece anestesiado, incapaz de reagir de forma adequada a situações catastróficas de miséria humana. Fazem parte delas as frequentes fomes na África. Parece haver acomodação diante de tristes fotos de seres humanos destituídos de toda a dignidade, como se prisioneiros fossem de campos de concentração nazistas.

    Sabe-se que, a cada nova tragédia, países doadores se reúnem para ajudar, organizações internacionais se mobilizam, ONGs assistenciais entram em ação e voluntários de muitos lugares do mundo formam batalhões humanitários. Com isso conseguem, no máximo, atenuar os efeitos da fome.

    Considere-se a situação do Chifre da África, onde 13 milhões de pessoas têm sua subsistência ameaçada em Somália, Quênia, Etiópia e Djibouti. O epicentro da crise é a Somália, onde a fome já atinge seis das oito regiões do país, e 750 mil estão na iminência de morrer por falta de alimentos. O cálculo é da ONU, segundo a qual centenas de somalianos perecem a cada dia - metade deles crianças - apesar do aumento da ajuda externa.

    A Somália, cujo estado praticamente desapareceu desde conflitos internos na década de 90, enfrenta uma terrível conjunção de fatores: seca e quebra de safras, preços da comida em alta acelerada, grupos em guerra que impedem a distribuição ou saqueiam os alimentos levados ao país. Quatro milhões de pessoas, mais da metade da população, estão em situação de crise alimentar, segundo a ONU.

    Leve-se em conta que os países ricos estão hoje em apuros, o que os leva a cortar justamente na ajuda externa à luta contra a miséria, a fome e a doença. O Congresso americano já brecou US$ 8 bilhões da verba pedida pelo Executivo para o Departamento de Estado e para a ajuda externa. Contribuições para a ONU foram reduzidas em centenas de milhões de dólares, atingindo missões de paz e o Programa Mundial de Alimentação.

    O mais grave é que os próprios líderes africanos viram as costas ao problema. Em visita ao campo de Dadaab, no Quênia, que aloja 400 mil refugiados alimentares da Somália, o músico Youssou N'Dour, do Senegal, um dos embaixadores do Unicef, criticou duramente esses líderes que, em grande parte, boicotaram uma conferência da União Africana para levantar fundos para enfrentar a crise. "Os africanos não estão dando o exemplo. Autoridades vivem como nababos. Precisam de mais dinheiro e poder para elas mesmas. Só pensam nelas e não na população de seus países", atacou N'Dour.

    À comunidade internacional não basta agir de forma tópica, nas crises. Em relação à Somália, por exemplo, ao lado do esforço humanitário, é necessário outro para ajudar o país a construir instituições que possam, futuramente, fazer frente de forma mais efetiva a situações como a atual.

    E parte do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a advertência tantas vezes ouvida, mas a cada dia mais pertinente. É preciso uma ação multilateral urgente contra o aquecimento global, causa importante das mudanças climáticas que tornam ainda mais dramáticas as secas em vastas regiões da África, e do mundo. *** (grifo nosso)

    Internet orienta população durante enchente em Santa Catarina – Techtudo – Rafael Silva

    Em épocas de desastres naturais, uma das maneiras que as pessoas encontram para se comunicar são as redes sociais. Dessa forma, é possível manter contato com amigos e parentes de uma região afetada e ao mesmo tempo ser avisado mais rapidamente de alertas de chuvas, tornados ou quaisquer mudanças climáticas bruscas que podem trazer problemas.

    Com a ocorrência de enchentes cada vez mais constantes no estado de Santa Catarina, órgãos do governo encontraram nesses sites um meio de alertar a população. Eles estão se esforçando para publicar o máximo de informações possível sobre as enchentes e ajudar moadores da região a se deslocarem com segurança.

    A prefeitura de Itajaí, por exemplo, alerta no seu perfil no Facebook os locais estáveis e onde ainda há chance de ilhamentos. Já a defesa civil de Santa Catarina, atualiza várias vezes ao dia uma planilha em Excel com dados da enchente, incluindo o número de pessoas desabrigadas, desaparecidas ou feridas.

    Além disso, membros de redes sociais também se esforçam individualmente para divulgar informações. Um dos moradores do estado, o catarinense Luiz Felipe Rahn de 23 anos, chegou a criar um tumblr para publicar informações sobre o nível da água no município de Rio do Sul. O prefeito da cidade decretou essa semana estado de calamidade pública.

    Uma situação similar aconteceu nos EUA nos últimos meses. O Twitter acabou avisando pessoas sobre um terremoto em vários estados americanos, antes mesmo que as pessoas pudessem sentir o tremor. Com a passagem do furacão Irene na costa leste do país, o próprio Twitter revelou que mais de 3 mil tweets por segundo eram postados sobre ele.***

    Estudantes das zonas urbana e ribeirinha de Manaus vão aprender sobre monitoramento de carbono – Acrítica – Cassandra Castro
    As medições de emissão e absorção de carbono devem iniciar em 2012 e vão contar com a participação de estudantes e alunos de escolas da Rede Municipal de Ensino

    Aprender mais sobre conceitos ainda desconhecidos, como emissão e seqüestro de carbono.  Esta oportunidade vai ser dada a jovens de escolas das Zonas urbana e ribeirinha de Manaus por meio do Projeto de Monitoramento do Carbono que será desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidae (Semmas), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e  Secretaria Municipal de Educação (Semed).

    Nesta sexta (9), uma reunião realizada pela Semmas definiu quais escolas vão ser contempladas pelo projeto que vai medir semanalmente a emissão e absorção de carbono ocorridas em parcelas  demonstrativas de áreas verdes situadas no entorno do Igarapé do Passarinho e de quatro escolas municipais situadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé.  De acordo com a assistente técnica da Semmas e Coordenadora do Projeto, Angeline Ugarte Amorim, as medições devem começar em 2012 por conta da diferença no calendário escolar das escolas ribeirinhas. 

    As comunidades ribeirinhas beneficiadas vão ser Livramento, Julião, Agrovila Amazonino Mendes e São José do Tupé.  Em Manaus, foi escolhida uma área na Zona norte de Manaus localizada no entorno do igarapé do passarinho que recebeu o plantio de mudas em julho deste ano.

     A metodologia utilizada para a medição será a dos cálculos alométricos (aumento do diâmetro e altura da árvore), desenvolvidos pelo Laboratório de Manejo Florestal do Inpa, que é coordenado pelo pesquisador doutor Niro Higuchi, que vem dando aporte técnico ao projeto.

    O projeto conta com o apoio do Fundo Municipal de Desenvolvimento e Meio Ambiente (FNDMA) e deverá beneficiar, num primeiro momento, aproximadamente 180 alunos e 20 professores da rede municipal.  “Nós entendemos que os meninos da Amazônia deveriam ser um exemplo aos outros meninos e serem os primeiros a falar com conhecimento de causa sobre a importância da floresta para o planeta”, conta Angeline Amorim.  Os alunos vão ter a oportunidade de experimentar o conhecimento e o fazer científico dentro do contexto da floresta.  “O estudante vai poder conhecer quais são os outros serviços ambientais que são prestados pela floresta“, finaliza Angeline.

    Outra ação dentro do projeto de monitoramento do carbono é o desenvolvimento de um software interativo com jogos que vão tratar da temática  das mudanças climáticas globais. ***

    Mudanças climáticas já castigam a África – Agência Estado – Jamil Chade
    Seca prolongada atinge 13,4 milhões de pessoas e acelera desertificação
    "Agora posso morrer tranquilo", disse Faad. Ele conduziu sua família, seu irmão doente e mais de 20 pessoas de seu vilarejo na Somália em direção ao campo de refugiados de Dadaab, na fronteira com o Quênia. Com 62 anos, o agricultor que fugia da fome conta que não tinha mais forças para andar. "Caminhamos por três semanas", disse, sujo pela poeira, sentado em um canto do centro de acolhida da ONU e lamentando que dois de seus netos foram enterrados pelo caminho.
    Jamil Chade/AE
    Espera. Refugiados aguardam por autorização para entrar no campo da ONU
    O Estado acompanhou o desembarque da família de Faad ao maior campo de refugiados do mundo. Eles estavam entre as mais de mil pessoas que diariamente chegam ao local. A fuga ocorre por conta da seca que atinge 13,4 milhões de pessoas no Chifre da África e, segundo a ONU, pode matar 750 mil até o final do ano.
    Faad não sabe explicar por que a chuva não vem. E não sabe que o fenômeno havia sido previsto por cientistas, que avisaram a comunidade internacional. Ninguém imaginava que os sinais das mudanças climáticas viriam de forma tão antecipada.
    Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou uma pesquisa de mais de sete anos que concluiu que a região viveria situações climáticas mais intensas. Agora, a crise traz dois desafios ao IPCC. Primeiro, as previsões poderão ter de ser antecipadas, já que alguns dos alertas começam a se tornar realidade. Mesmo as previsões mais pessimistas estão sendo superadas pela velocidade dos fenômenos climáticos.
    Outra constatação é de que o IPCC terá de ampliar as pesquisas para construir projeções mais exatas e localizadas. No caso do Chifre da África, os cientistas estimavam em 2007 que a seca poderia aumentar em alguns momentos do ano, mas que a predominância seria de um aumento também de chuvas torrenciais. Hoje é observado que a região, acima de tudo, tem sido alvo das secas. As chuvas, quando chegam, ampliam o desastre humanitário.
    Seja qual for o futuro da pesquisa, a constatação é de que a seca na Somália é um dos sinais mais fortes das mudanças climáticas. Segundo Friedrich-Wilhelm Gerstengarbe, do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático, a seca é causada pela intensificação do fenômeno La Niña no Oceano Pacífico.
    Esse fenômeno ocorreria de cada cinco a sete anos. Mas, nos últimos anos, tem se repetido com maior intensidade e num período menor de tempo. A última grande seca na região ocorreu em 2008 e se repetiu em 2011. Um dos resultados tem sido a desertificação acelerada na África. Segundo Gerstengarbe, as mudanças climáticas estariam intensificando tanto o La Niña como o El Niño, gerando um aumento de chuvas no Paquistão e na Austrália e secas na África.
    Jean-Cyril Dagorn, especialista da Oxfam, alerta para os prejuízos econômicos. "A produtividade agrícola no leste da África cairá em 20% em duas décadas", diz. Isso sem contar que muitos agricultores perderam entre 30% e 60% dos animais.
    Desespero. Nem todos concordam que a Somália pegou a comunidade internacional de surpresa. "Grande parte do conhecimento sobre secas foi acumulado nas organizações internacionais nos últimos anos", afirmou Mansour N"Diaye, chefe de gabinete da secretaria da Convenção da ONU para o Combate à Desertificação. Segundo ele, há nove meses cientistas alertaram que a Somália estava à beira de uma crise.
    De volta ao campo de refugiados, poucos entendem porque tanta informação sobre a potencial crise não gerou ações que evitassem o desastre humanitário. Com um número cada vez maior de refugiados, o alívio de desembarcar em Dadaab se transforma rapidamente em decepção, diante da constatação de que a luta pela sobrevivência não terminou e que a seca continua sendo uma ameaça.
    Eram 6 horas quando Faad e seu grupo avistaram as primeiras barracas de refugiados, que os indicaram onde estavam as dependências montadas pela ONU para o registro de novos refugiados. Se em sua mente o pior havia sido superado, Faad logo percebeu que o campo da ONU não seria a solução para os seus problemas. Conduzidos para dentro das dependências, sua família se surpreendeu com a primeira oferta da comunidade internacional. Não seria a distribuição de alimentos ou água, mas sim a oferta, pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, de que poderiam fazer uma ligação telefônica de graça.
    De fato, alguns refugiados tinham famílias no Quênia e o serviço os ajudou a encontrá-los. Mas a grande maioria apenas queria comer. "Vou ligar para quem?", questionava Faad. Só depois seriam registrados, receberiam uma tijela, um saco de alimentos e água. Dois de seus netos seriam encaminhados para um centro médico, diante da desnutrição que havia sido constatada. Ambos não comiam mais que folhas de árvores havia três dias.
    Mas a família receberia uma informação que os deixaria sem saber o que fazer: o campo estava lotado e não haveria novas barracas. Com 440 mil pessoas no local, teriam de construir suas próprias tendas para passar a noite e, provavelmente, meses.
    Os problemas não paravam por aí. Funcionárias da ONU informaram à família que não só não havia espaço como o local onde deveriam montar as barracas também já estava cheio. Eles teriam de negociar um espaço, justamente no que era até pouco tempo o lixão do campo de refugiados.
    Iussuf, irmão de Faad, não escondia a frustração. "Pensávamos que aqui ia ser tudo diferente", lamentou. Para chegar ao local onde acreditavam que haveria espaço para montar sua barraca, a família teve de voltar a andar. Desta vez, por mais 20 quilômetros. Levariam todo o dia para chegar ao lado oposto de Dadaab.
    Ao se despedir da reportagem e reiniciar a caminhada, Faad já não demonstrava o mesmo otimismo. "Você sabe quanto tempo ficaremos aqui antes de ir a uma cidade?", questionou o agricultor.
    Faad não tinha ideia de que muitos dos refugiados estão em Dadaab há 20 anos, sem receber a autorização de sair da área, sob o risco de serem deportados de volta para a Somália ou torturados pela polícia local. A realidade é que nem ele nem os cientistas previam que a seca o havia tornado um prisioneiro dentro de um campo de refugiados. ***


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