segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Morte de cinegrafista põe o Brasil na Linha de Tiro

GELSON É CALADO POR TIRO DE FUZIL
Autor(es): Edson Luiz
Correio Braziliense - 07/11/2011

Morte de cinegrafista põe o Brasil na Linha de Tiro

Gelson Domingos de Souza, que trabalhava para a Band, foi atingido por um tiro de fuzil quando filmava a investida de policiais do Bope contra traficantes, na Favela de Antares, no Rio. O colete à prova de balas não bastou para conter o disparo. A repercussão internacional da tragédia reabriu a discussão sobre o poder do tráfico no estado, que vai abrigar as Olimpíadas de 2016 e será o principal palco da Copa do Mundo de 2014


Cinegrafista morre após ser baleado em uma operação policial na Favela de Antares (RJ). O caso reacende debate sobre a segurança no estado que receberá a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016


O cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos da Silva, 46 anos, foi morto, ontem pela manhã, após ser atingido por um tiro de fuzil. Ele acompanhava uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) na Favela de Antares, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, quando foi alvejado durante um tiroteio. O crime, com repercussão internacional, coloca em xeque, segundo especialistas, a segurança da cidade que será palco da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Gelson usava colete à prova de balas, segundo a emissora para a qual trabalhava, mas o artefato não foi suficiente para impedir que o disparo atingisse o tórax do profissional. Na ação, mais quatro pessoas morreram — todas criminosas, segundo a polícia — e nove foram presas.

Conforme as imagens gravadas pelo próprio cinegrafista, ele acompanhava a operação atrás do PM Gomes, do Batalhão de Choque da Polícia Militar. "O tiro que pegou o Gelson era para mim", disse o policial. Os dois estavam próximos a uma árvore quando o cinegrafista foi atingido por um disparo, provavelmente de um fuzil AR-15. A polícia pretende usar as imagens feitas por Gelson para tentar identificar o autor dos disparos.

Além de Gelson, estava na região do confronto o repórter da TV Bandeirantes Ernani Alves, que não se feriu e se desesperou ao ver o amigo atingido. Outros jornalistas que também acompanhavam a ação policial se esconderam atrás de um muro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio, Gelson ainda foi levado a uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), onde chegou sem vida. A Secretaria de Saúde informou que foram realizadas tentativas de reanimação, mas não houve sucesso.

Algumas testemunhas afirmaram que o socorro ao cinegrafista demorou pelo menos 20 minutos, já que o tiroteio entre os criminosos e a polícia continuou. O enterro de Gelson será hoje, às 11 horas, no Cemitério do Caju. Ele era casado, pai de três filhos e tinha dois netos. Antes de trabalhar na TV Bandeirantes, foi cinegrafista no SBT, na Record e na TV Brasil.

Fonte: Edson Luiz
Correio Braziliense - 07/11/2011

O tiroteio em que Gelson foi morto começou por volta das 6h, no momento em que o Bope entrou na Favela de Antares para verificar uma denúncia sobre uma reunião entre traficantes. Depois do confronto, o Bope prendeu oito pessoas, entre elas um gerente do tráfico conhecido por BBC e seu braço direito, identificado como China. A operação resultou na apreensão de um fuzil AR-15, três pistolas, um 1kg de maconha, 100 papelotes de cocaína e mais de 520 pedras de crack, além de R$ 3 mil, nove motos e um celular.

Nota de pesar

Ontem, o Palácio do Planalto divulgou uma nota classificando o assassinato como uma tragédia. "A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República expressa o seu pesar aos familiares, amigos e companheiros de Gelson Domingos", diz o comunicado, ressaltando os riscos que correm trabalhadores de áreas semelhantes. "O trágico episódio reforça em toda a sociedade o sentimento de gratidão e de solidariedade a todos os profissionais de todas as categorias que, como Gelson, arriscam-se em suas tarefas diárias em prol dos brasileiros."

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) também divulgou nota, ressaltando que a morte do cinegrafista foi mais uma demonstração de insegurança que atinge todos os brasileiros. "A violência afeta a liberdade de imprensa e de expressão; o profissional morreu trabalhando para informar", diz o comunicado. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), por meio de seu presidente, Maurício Azedo, divulgou uma nota de pesar à família de Gelson e a seus companheiros de trabalho, e pediu mais segurança nesse tipo de cobertura. "Embora reconhecendo que a atividade jornalística expõe os profissionais a graves riscos no Brasil e no mundo, a ABI considera necessário reiterar aos jornalistas e às empresas a necessidade de adoção de providências materiais e de procedimentos que diminuam os riscos de perda de vidas e de ferimentos de jornalistas no desempenho profissional", afirma Azedo.

Profissional experiente
Segundo amigos e familiares, o cinegrafista Gelson Domingos da Silva tinha experiência neste tipo de cobertura e gostava do que fazia. "Todo mundo tem temor de certas situações de trabalho, mas era a vida dele", afirmou Ricardo, um dos cinco irmãos. Os colegas de profissão do funcionário da TV Bandeirantes estiveram, ontem, no Instituto Médico Legal (IML) para prestar a última homenagem a Gelson, a quem elogiaram pelo dinamismo profissional.




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