quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Policiais suspeitos de escoltar traficantes fugindo da Rocinha, são presos pela PF





Policiais suspeitos de escoltar  traficantes fugindo da Rocinha, são presos pela PF

RIO - No início da noite desta quarta-feira, 13 policiais civis e militares foram presos durante operação da Polícia Federal quando escoltavam dois traficantes que teriam fugido da favela da Rocinha, que deve receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no próximo domingo.

De acordo as primeiras informações, o grupo estava dividido em dois carros que foram interceptados por agentes da PF em frente ao Shopping da Gávea e ao Jóquei, na Zona Sul do Rio. Um dos bandidos presos seria o traficante conhecido como "Coelho", braço-direito do traficante Nem e que anteriormente atuava no Morro de São Carlos. Nos carros foram apreendidas armas, granadas e drogas. Todos foram levados para a sede da PF, na Praça da Bandeira.

A quatro dias da provável ocupação da Rocinha, as corregedorias da Polícia Civil e Militar investigam a denúncia de que o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, também deixaria a favela escoltado por um carro da polícia.

Segundo o corregedor da Polícia Civil, delegado Gilson Emiliano, a informação de que Nem sairia escoltado foi passada pelo Disque-Denúncia (2253-1177) na manhã desta quarta-feira, e dá conta de que o traficante sairia da favela num carro preto com soldados do tráfico fortemente armados e escoltados por viaturas. A denúncia não mencionou se a escolta seria feita por policiais civis ou militares. Por precaução, Gilson Emiliano montou uma operação para evitar a fuga e prender os policiais. Até o momento nenhum suspeito foi preso.

- A denúncia, recebida às 10h40m, diz que Nem sairia num carro preto hoje ou amanhã. Enviei policiais da Coinpol em quatro carros escoltados por agentes da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais) em dois carros. Estamos revistando todos os veículos escuros e observando carros da Polícia caracterizados que entram e saem da favela - contou o corregedor da Polícia Civil, que informou ainda que um veículo da Coinpol com três agentes ficará de plantão na 15ª DP (Gávea) até quinta-feira para entrar em ação rapidamente.

O corregedor da Polícia Militar, coronel Waldir Soares, informou que delegou à 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) a investigação da denúncia. Segundo ele, agentes daquela unidade apoiam uma ação da Corregedoria Geral Unificada (CGU). O corregedor geral, o desembargador Giusepe Vitagliano, confirmou a denúncia e afirmou que já há equipes em campo para evitar a suposta tentativa de fuga do bandido e prender os policiais.

Segundo a polícia, o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Rocinha, continua na comunidade. A Polícia Militar reforçou o patrulhamento nos acessos à Rocinha e à Favela do Vidigal, também na Zona Sul, inclusive com viaturas da corporação. Agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) ocupam a Vista Chinesa, uma das possíveis rotas de fuga de bandidos da Rocinha.

O Batalhão de Choque da PM realizou entre a noite de terça-feira e a manhã desta quarta uma operação na Favela da Rocinha. Cerca de 50 policiais, em 12 patrulhas, se fixaram em dois pontos (na saída da Rua 1 e na Estrada da Gávea) e começaram a revistar vans e outros veículos. Segundo o serviço reservado do batalhão, o objetivo da operação era impedir a fuga de bandidos. Não houve presos, e o clima era de tranquilidade na comunidade. Nesta manhã, os policiais do 23º BPM (Leblon) continuam fazendo patrulhamento nos arredores da comunidade.

Na terça-feira, o delegado titular da 15ª DP (Gávea), Carlos Augusto Nogueira Pinto, afirmou que instaurou um procedimento para investigar a denúncia de que Nem estaria intervindo nas associações de moradores na região. Há informações de que o traficante teria determinado a antecipação da eleição para a escolha dos presidentes das entidades.

Bandido cobra taxas de vans, motos e prostíbulo
  A expectativa da ocupação da Rocinha e do Vidigal pela polícia, para a implantação de UPPs, fez com que Nem se reunisse com seus cúmplices na segunda-feira, na tentativa de antecipar as eleições em três associações. Segundo o delegado Carlos Augusto, o bandido estaria disposto a deixar pessoas de sua confiança à frente das entidades e de seus negócios ilícitos.

O delegado explicou que, além do dinheiro do tráfico, Nem recebe uma espécie de “pedágio” de vans e motos que circulam nas favelas, além de cobrar taxas de uma clínica de aborto, interditada na semana passada, e de uma casa de prostituição.

Em novembro, a delegacia da Gávea já recebeu 20 informações do Disque-Denúncia sobre Nem. De acordo com o delegado, o bandido teria ido um dia à Praia de São Conrado.

— Chegamos a ir lá, mas ele não estava mais na praia. Não estamos deixando de averiguar nenhuma informação. Foi assim com a denúncia de que Nem se encontrava na UPA da Rocinha, recebendo tratamento médico.

Havia cerca de 40 traficantes fazendo a segurança do bandido. Quando nos aproximamos da UPA, os criminosos soltaram fogos anunciando a nossa chegada — contou o delegado.

“Vai ser um alívio ver isso aqui sem os bandidos”
  O clima nas duas comunidades na segunda-feira era um misto de alegria e apreensão por conta da futura ocupação para a instalação de UPPs. Helicópteros da Polícia Civil sobrevoaram a Rocinha e o Vidigal. Por medida de segurança, alguns moradores já deixaram as favelas, a fim de não pôr as famílias em risco no dia da ocupação.

— Estou aproveitando para viajar para o Nordeste. Volto quando as coisas se acalmarem. Vai ser um alívio ver isso aqui sem os bandidos. Os traficantes ficam na porta da gente xingando e tocando funk a todo o volume, na frente das crianças — reclamou um morador.

Moradora de São Conrado há 18 anos, a cantora Elba Ramalho compartilha de mesma apreensão da comunidade da Rocinha. Com três filhas pequenas, ela teme que a ocupação gere um confronto armado. Na expectativa, Elba diz esperar que a ação ocorra de forma “extremamente” organizada:

— Sou sempre a favor da paz e de uma sociedade organizada, mas fico muito temerosa pela ação em si, já que a grande maioria da população da Rocinha é formada por pessoas de bem e que não tem culpa. Por isso, a ação deve proteger quem mora na comunidade e quem mora ao redor — diz Elba.

Fonte: Extra

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