sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Tráfico sustentável

Por : IRAKLI NALEVA

A produção de cocaína não pode parar. A clientela é grande, exigente e necessita ser abastecida.

Histórias que envolvem o submundo do crime de tráfico via de regra tem um final assombroso.

Com a prisão do Traficante Nem, a estrutura do crime na Rocinha será remodelada. Uma vez preso o comandante, assume o próximo na hierarquia.

Bandido famoso é organizado, tem estrutura, estratégia, empregados, contas a pagar, encomendas a entregar, família para sustentar e tributos a honrar.

Policiais corruptos precisam receber a propina diariamente e o bolo tem que ser repartido.

Neste mundo na há lugar para vacilo. A lei é a bala.

E quem sustenta a categoria são os clientes. Traficante vende cocaína para gente boa, engravatados, executivos, pessoas livres de quaisquer suspeitas.Um ou outro pé rapado dá um tapa na branca, mas eles não são a maioria.

A violência nas ruas assusta e todos cobram a paz.

É uma coisa parecida com aquilo que escrevi em minha matéria intitulada “a corrupção em mão dupla”, onde falo sobre o cidadão que cobra correção de atitudes do poder público e atribui à corrupção uma exclusividade apenas dos maus políticos.

A corrupção existe, é real, e tem que ser combatida com seriedade, com leis rígidas e com eficácia. Acho o máximo este movimento contra a corrupção que cresce a cada dia no Brasil.

É um momento de amadurecimento do povo brasileiro. Precisamos passar a limpo o Brasil, e isto não se consegue do dia para a noite.

Voltando ao tema principal, faço aqui uma analogia daquele cidadão comum corrupto que cobra seriedade dos políticos, com o cidadão comum que abastece o seu vício ou o seu prazer adquirindo seus “produtos” com os traficantes e exige do poder público, da polícia, do governador, prefeito e presidente,melhores condições de segurança, exigindo que sua casa não seja arrombada, que seu carro não seja roubado, que uma bala perdida não o atinja.

Ora bolas, corrupto não vive sem corruptor, assim como traficante não vive sem cliente.

As UPPs estão sendo instaladas no Rio de Janeiro, dando um ponto final em uma situação caótica instalada há décadas.

O combate ao tráfico existe, mas as raízes são longas e profundas.

O novo comando que assume o posto do Nem, deverá estabelecer-se em local estrategicamente seguro, onde possa vender seus produtos, pagar suas propinas aos policiais que guarnecem sua base e sobretudo, oferecer a cocaína de boa qualidade e em quantidade suficiente para satisfazer sua exigente clientela, afinal de contas, os consumidores são responsáveis por manter o bando bem armado, aparelhado, com carrões importados, bem guardados em suas mansões e produzindo a todo vapor, pois a economia não pode quebrar com a crise.

Como estancar o tráfico se a demanda pela droga continua?

As UPPs são um belo caminho, mas precisamos trabalhar a família que é a fonte da mão de obra para o braço criminoso. Traficantes e viciados saem dela.

A educação, e um planejamento com resultados diferenciados a curto, médio e longo prazo, são receitas infalíveis para que o tráfico deixe de ser auto sustentável.

Parabéns aos governos que investem na prevenção e repressão ao tráfico.

Parabéns às Polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro.

Parabéns Beltrame!






0 comentários:

Postar um comentário