segunda-feira, 18 de março de 2013

Padilha é o segurança das estrelas e da gentileza

Perfil - Padilha é o segurança das estrelas e da gentileza

Um "armário" de simpatia - Há 22 anos o segurança estuda técnicas e usa a paciência e boa educação para evitar problemas

Carol Macário



Rosane Lima / ND
Professor Padilha é um profissional requisitado e sua principal arma é a gentileza

Só porque um homem é grande, negro e forte, não quer dizer que é ignorante e grosseiro. Padilha, o conhecido segurança de estrelas, famosos e anônimos, do alto do seu 1, 87 metro de altura, ensina que nada é mais eficaz contra a violência que um sorriso sincero e palavras de gentileza. Aos 44 anos, ele é um profissional requisitado, mas acima de tudo um modelo de homem que respeita o próximo e prima pela boa educação.
Ele é também conhecido como professor Padilha, e coleciona histórias como segurança de celebridades. “No penúltimo show do Ney Matogrosso percebi que ele comungava antes de ir para o palco. Parava em frente aos seus objetos e acessórios – e eram muitos - e os tocava, agradecendo a troca.” Padilha comentou com o cantor, que até então não tinha se dado conta do ritual. “Ficamos depois disso conversando por mais de quatro horas. Perguntei tudo que queria.” Ele emenda outra história, de um show de João Bosco, que cantava versos que, para Padilha, pareciam com os de Federico Garcia Lorca. Bosco então esclareceu a semelhança, dizendo que eram de Aldir Blanc.
Outra vez foi com Caetano Veloso, abordado por uma multidão de fãs que o esperava na saída de um show. “Eu abracei ele e comecei a cantar. Caetano disse: ‘isso, cante que me acalma.’”
Padilha nasceu em Florianópolis, tem formação em pedagogia e uma trajetória como educador na comunidade do morro da Mariquinha. Trabalhou alfabetizando crianças e adolescentes moradores de rua. “Eu dava aula até um horário e depois alguns deles saíam para mendigar ou roubar”, conta.  “Muitos desses morreram, alguns se deram bem.”
A carreira como segurança começou cedo. “Entrei jovem para o movimento sindical e nem sempre era fácil com a polícia.” Era preciso alguém grande para garantir a segurança e aos 14 anos Padilha já tinha uma boa altura. Ele profissionalizou-se na área aos 22, e há cerca de 15 atua também no meio artístico.
Boa educação é tudo
Nelson Murilo Padilha tem tatuado nos braços o orgulho de sua cor de pele. “Zumbi é rei” no esquerdo, e “Sou negro, exijo respeito” no direito. “Infelizmente a gente vive numa sociedade de princípios preconceituosos. Só porque é grande, não quer dizer que é grosso ou ignorante”, diz. Ele então lembra da vez que uma moça bonita mas pouco elegante perguntou se ele sabia ler. “Respondi que lia em português, inglês, espanhol, e que estava retomando as aulas de francês em breve.” Tudo isso porque ela na verdade tinha lido errado o convite e compareceu na data errada.
E assim Padilha aprendeu a cultivar a paciência de não corresponder à expectativa de revidar das pessoas mal educadas, e trata o próximo da mesma forma que gosta de ser tratado. Sua postura até rendeu um apelido, de “Bom dia, boa tarde, boa noite”.
“Quando eu comecei no ramo, o segurança era do tipo “leão na chácara”, apelido daquele tipo carrancudo que diz não para tudo.” Padilha foi contribuindo para mudar essa perspectiva. Estuda há mais de 20 anos e atua numa empresa que tem uma filosofia e códigos de ética. “O bom segurança é aquele que evita problemas.” Mais que isso, é aquele que agrega valor ao serviço com pequenos gestos. “E assim a gente acaba sendo um pouco terapeuta”, comenta ele, que eventualmente é chamado para dar cursos.
Histórias cabeludas
No contracheque do segurança há uma taxa paga por tolerância, isso porque não é fácil lidar com o ego de alguns ou o assédio de outros. “Uma vez, durante apresentação de uma peça estrelada por Rodrigo Santoro, tive que lidar com uma situação incômoda: uma mulher ofereceu R$ 200 enquanto a filha mostrou os seios, tudo para eu deixar elas passarem.” Numa outra situação, ele estava como segurança numa festa de Réveillon e se dispôs a fazer papel de namorado da amante de uma figura proeminente da política da cidade porque a mulher dessa figura, que estava fora, apareceu de surpresa. “Mas isso é ‘mato’ comparado com outras histórias muito mais cabeludas.”
Padilha já trabalhou com Roberto Carlos, Antonio Fagundes, Vera Fischer e até Hebe Camargo, de quem lembrou com emoção ao contar um episódio que ela mandou vir de São Paulo uma rosa para ele entregar à mãe. Ele tem também uma lista dos artistas intragáveis.
 Ele tem atuado em novos nichos de segurança, como inteligência – localização e desmanche de grampos telefônicos, por exemplo – e segurança em casamento, a mais nova grande demanda. O noivo ou a noiva dizem que é para ficar de olho no estacionamento, mas principalmente nos ex-namorados que possam aparecer e estragar a festa.
Publicado em 18/03-09:52 por: Carol Macário.

Atualizado em 18/03-19:11

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